quarta-feira, 21 de março de 2012

A GOTICA EO DOBERMANN

Não vês minha dama, quão lacrimoso são seus olhos Como nebulosos estão as memórias de minha ventura. Num leito decaído apoiada em podres e minguantes tijolos Amante que me banha de ternura. Teu seio mergulhado num musgoso e fétido concreto Estático sem palpitação... Velando-me o gozo, Protegendo entre sombras da luminosidade do céu aberto Guardando-me, como moço. Lágrimas caem em seus olhos... Assombrosa nuvem Imunda meu leito, leve esta rosa em suas águas Carregue entre seus lençóis para que os tempos consumem Deixando as cinzas das magoas. Mãos levantadas ao céu, num pedido de bênção Magoadas e ambas gastadas, um palco onde um corvo canta Gritos mórbidos, porteiro da noite para a lua esta canção, Ou para esta que em meu leito é santa. Oh rosa! A flor pálida que aos pés de minha dama dorme Somente as cinzas, neste sepulcro de cimento ti espera Ou junto às lágrimas das nuvens, que o solo imundo absorve Levando-a ao fundo da terra. Oh rosa! Flor pálida e lacrimosa... Não vê que vai embora... Uma pétala de sua sombria e elegante harmonia Aquela pétala que como distante pombo viaja muito agora E espera a primavera em agonia. Assim vai outra e outra... Daquela pálida flor apenas a lembrança Que uma lágrima da chuva, para as profundezas levou. Daquela que presenteou meu leito, resta apenas uma esperança Que outra rosa ao menos guardou. Tão castigado sorriso é desta que não me abandona Nem mesmo esta borboleta em seu ombro esse sorriso faz animar. Grãos caem no decorrer dos ventos, viajam longe de sua dona Quanto resta para ele sangrar. Oh minha amante... Silente sorriso petrificado Que me guarda... A musa poética de meu calmo jardim. Oh! Deitado em seus pés sinto-me com algo purificado Se ao menos deitasse junto a mim. E assim nossa eternidade prossegue... Num barco navegando O tempo que ti corroeu a face sempre ti deixa mais bela. Oh anjo de meu leito, com um vago olhar segue sonhando Vagaremos nesta barca singela.

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